9- Folhas secas

Quando adolescente, Sofia gostava de chegar à escola antes de todo mundo. Queria ver o sol nascer. Quando a luz clara da primavera chegava, era como se pintasse a escuridão de azul. Ela achava que aquilo era para ela e agradecia a quem quer que fosse.
Depois via o jardineiro arrumando um galho aqui, outro ali. O trabalho fazia o suor escorrer pelo rosto do homem. Atrás dele, pelo caminho, ficavam lindas margaridas. O caminho limpo.
"Cuidar da nossa vida é como cuidar de um jardim ". Pensou Sofia.
"Você tem que limpar, cortar, regar e varrer sempre. No final do dia, tomar um belo banho, sentar na varanda e admirar. Tem o canto dos pássaros voltando para casa, como você. Tem a sombra das árvores que refresca seu redor. Tem o galho que se encheu de flores que secaram e soltam as pétalas secas. Tudo a seu redor é um renascer constante. E você o jardineiro. Apenas cuida e admira." E assim ela ia pensando, até que uma e outra amiga chegava até que soava o sinal da aula.
"Que vontade de tomar um banho". Pensou Sofia segurando o braço de Matheus. Ele tinha passos largos. Isso a deixava um pouco atrás dele. Olhando para baixo, notou que seus sapatos eram velhos e sem salto. Sofia só trabalhava de scarpin e o tailleur preto.
"Que sapatilha horrível... Pelo menos é confortável". Ela pensou, apressando o passo.
Estavam andando por uma rua, que mais parecia um shopping. Tinha cobertura em toda a extensão. Algumas partes mais se assemelhavam a galerias. Ela identificava uma mistura imensa de idiomas em seus ouvidos. Chegou a pensar que estivesse em outro país. Mas aquele era mesmo seu mundo, só que em outro tempo.


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